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domingo, 3 de fevereiro de 2013

DIARIO DE BORDO

Primeiro dia: Era aquel e clima tenso, eu sabia que ele agria aquella forma para mostrar quem estava no controle da situação, entao, apenas acenti a tudo que ele dizia. Concordando com cada palavra. Quando cheguei tudo parecia familiar, exceto pela armação dos óculos da minha vó, que parecia bem mais moderna que a antiga, embora a antiga me agradace mais, e tambem a camionete gigantesca, luxuosa e intimidadora que ele dirigia, fiquei me sentindo meio acuada. A casa praticamente nao tinha mudado, e eu podia claramente me ver correndo feliz por ali quando criança, a beliche na qual eu dormia estava arrumada, com os mesmos lençóis de sempre, e o mesmo travesseiro. Lençol azul escuro, grosso. Mas decidi me deitar na cama maior, eu ja nao era tao feliz assim quanto criança. Problemas maiores, dores maiores, cama maior. Ele nao parecia feliz de me ver, a impressao que eu tinha era que as pessoas que eu amava nao ficavam mais contentes com a minha presença, mas sabe como é né, eu sou de cancer, é natural que eu dramatize tudo. Quase nao falou comigo, e quando falou era só sobre as mesmas coisas, coisas que teriam me feito começar uma briga a qualquer momento, mas eu apenas concordei. E era isso que eu faria, estava cansada demais para começar qualquer coisa. Seriam 10 dias que eu faria o possivel para ter paz. Primeiro, fechei a porta do quarto, e abri minha mala, começando a retirar minhas roupas e coloca-las dentro de um velho armario, que por anos ficou no quarto da minha vó. Tinha 3 portas e no meio um espero, cresci me olhando nesse espelho, e se ele pudesse me contar uma historia, me pergunto quantas ele nao contaria. É um espelho triste. Havia dentro dele uma meia dúzia de cabides pelos quais fiquei muito grata, nao teria que amontar toda minha roupa num cantinho empoeirado do velho roupeiro, coloquei entao o que era principal nos cabides. 3 camisas que eu havia trazido, e 2 calças, e pronto, fim dos cabides, o resto teria de ficar mesmo amontoado junto com a poeira. Tudo bem. Depois de esvaziar a mala arrumei a cama maior, meu elefante de pelúcia e meu monstro me faziam sentir um pouco menos chateada, tomei meio calmante - precisava racionar para que nao acabassem antes do tempo - e olhei para meu sketch pensando se deveria ou nao mostrar meus desenhos, nao achava que ninguem fosse querer ver. O que me doeu no coração, pois ali estava tudo o que eu sabia fazer, talvez a unica coisa que eu realmente soubesse fazer, mas nada naquelas paginas tinham o menor valor para eles. Senti falta da minha mãe, da epoca em que ela vinha comigo para cá, em que eu dormia na beliche e ela me dava um beijo de boa noite mexendo no meu cabelo, e eu acordava com um beijo de bom dia do meu pai, e cocegas na barriga e nos pés, e abraço. Coisa que parece que nunca mais vai acontecer. Li e re-li algumas vezes umas mensagens no meu celular, da minha mae dizendo que me amava e da Dani dizendo que iria sentir saudade. O que eu queria mesmo era uma abraço. E agora o calmante ja começava a fazer efeito. ——————— Segundo dia: Algumas vezes precisamos fazer algumas coisas. O dia de hoje tinha sido surpreendentemente facil, e tedioso ao mesmo tempo. Eu estava fazendo aquilo que eu precisava fazer. Estava tudo bem, e cada dia que passava eu pensava o menos possivel sobre ela, e sobre tudo. Talvez dentro de alguns meses eu poderia de fato esquecer de uma vez por todas esse sentimento, nao com a mesma facilidade com que ela fez. Mas como ja disseram uma vez ''a direção é mais importante que a velocidade'' E eu estava indo bem de vagar. Hoje meu dia começou as 6 da manha, meu cavalo ja estava arriado, e eu corri pelo pasto, tão rapido, que nao seria capaz de parar. Com as pernas firmes, era como se eu, o cavalo e o vento fossemos umas coisa só. Fui até os limites das terras, dois cachorros me acompanhavam. O domingo se passou assim, bem lentamente, Eu quase sempre em outro mundo, pouco ciente do que se passava ao meu redor, Pensava na minha mae as vezes, em como ela estaria. Pensava se a dani estava bem tambem, mas nao mais me perguntava o que ela estaria fazendo ou se sentia minha falta, essas eram questoes das quais eu nao tinha certeza se gostaria de saber a resposta. Se tudo desse certo, amanha eu teria um dia cheio. Assim eu esperava. ——— Terceiro dia: Me sentei na varanda, a noite nublada, o ceu escuro sem estrelas, uma mistura de varias cores, amarelo, roxo, azul, vermelho. E dinossauros passeavam pelo quintal. O primeiro que eu vi tinha o pescoço longo e comprido, parecia quase uma girafa, era do tamanho de uma arvore, e eu achava q ele estava comendo a copa dela. Depois um pouco mais ao fundo um que deveria ter facil o tamanho de um prédio de 3 ou 4 andares, bravo e rugindo, mostrando os dentes, vociferando, nao dava medo, ate porque ele estava no outro lado da cerca, uma cerca que nao deveria tem mais que 60cm te altura e ele poderia facilmente derruba-la, sem fazer o menor esforço, mas de alguma forma me sentia segura. Depois conforme a noite ia se aprofundando outros apareceram, e bem ao longe a sombra de um dragão de 2 cabeças se mexia, ela um lugar incrível para se viver. Os cachorros dormiam tranquilos, e os gatos corriam pelo quintal, quase que brincando com os animais. A gata branca rolava na areia, e a cadeira de balanço, se movia lentamente, eu poderia dormir ali mesmo. Foi um dia incomum. ———— Quarto dia: Enquanto a conversa seguia eu acompanhava levemente ciente sobre o assunto, olhando para uma baleia que nadava no por do sol. Por do sol amarelo, coisa que a gente nao ve em curitiba, nem por do sol nem baleias. A gata, branca como leite, se sentava ao meu lado, como se nao desse conta da minha presença, e as vezes me olhava e conversava baixo comigo, sem abrir muito a boca ao falar. Quase como cochichando um segredo. Eu queria ir embora. Estava cansada. Dormi o dia todo, e quando nao estava dormindo, estava variando entre o sono e consciência. As vezes olhava o celular, como se esperasse que ele tocasse, como se esperasse qualquer coisa. Nao sentia vontade de conversar, ou desenhar, ou qualquer coisa do tipo. Só sentia vontade do silencio, vontade de voltar, vontade de abraço e cheiro conhecido. Afagos. Estava cansada, mas isso iria logo terminar. ——— Quinto dia: Se eu tivesse apenas UM desejo, nao pediria fortuna, nem riqueza, pediria apenas que eu pudesse confiar nas pessoas que eu amo, e que eu amasse apenas as pessoas certas. Mas sou tão fodida que nem mesmo na minha familia eu posso confiar. Cada vez que eu relaxo um pouquinho e acho que posso ficar tranquila, vem outra pancada. Estou cansada, de tudo, de todo mundo. Quero ficar sozinha. Estou decepcionada em varios niveis diferentes, sinto falta do tempo em que eu me sentia segura, do tempo que eu poderia me jogar do alto de um precipicio e voar. Hoje, até para descer uma porra de um degrau tenho que me agarrar aos corrimões, porque se meu pé escorrega, quebro todos meus ossos. Quero voar. Ainda me faltam 3 ou 4 dias até que eu possa pisar em terra firme. ——— Sexto dia: Me tiraram do meu quarto, uma hierarquia ridicula, espero que todos vao tomar no cu. Sétimo dia: Estou cansada, gostaria que eu tivesse alguem para conversar, alguem que eu amasse. Esse lugar é deprimente, onde nao me sinto bem vinda, onde nao gostam de mim, lamentavel , porque eu gosto deles. Mas cada dia menos. Nao tenho mais paciencia pra ficar ali perto, ouvindo as conversas idiotas, estou enlouquecendo nessa droga, fujo para meu proprio mundo a todo momento, nao sou ninguem, nao quero ser ninguem, só quero ir para casa. Oitavo dia: Este é o ultimo dia aqui. Enquanto todos dormiam, eu dei uma ultima caminhada pela casa vazia, os comodos levemente iluminados pela luz fraca que partia da cozinha, onde parei peguei uma xicara de leite e me encostei contra a mesa por alguns minutos. Amanha nessa mesma hora eu estaria num lugar mais seguro, embora agora, a selvageria quase me fizesse sentir em segura. Hoje eu voei, voei, sobre um cavalo alasao, um puro sangue, alado, primeiro, eu nao sabia que ele poderia, era apenas um passeio pelo campo, olhando as grossas nuvens de algodao, imaginando que eu estava em qualquer outro lugar, como sempre fazia para fugir da realidade, e depois o galope leve, ate que o vento no rosto fazia meu cabelo chicotear. Um pouco mais rapido, mais rapido! Rapido! Ele corria feito louco, mal podia sentir o atrito dos cascos com o chão, ate que quando olhei para baixo, estava voando. Apenas a pequena sombra se movia em sincronia no chão, e era tao rapido, e tão incrivel, que sorri, pela primeira vez, depois de tanto tempo, eu estava sorrindo, sem ter a obrigação, sem ter de parecer alguma coisa, sem fingimentos, simplesmente estando feliz, sem motivos, e era uma sensação tão boa. Ele parecia saber, e estendeu suas asas enormes para golpear o ar com elas, subindo cada vez mais, cortando o céu, subimos tao alto que nao houve uma só nuvem no ceu que eu nao tivesse tocado, e eu nunca havia tocado uma nuvem antes. Descer foi dificil, ele nao queria perder altitude e nem eu queria, poderia voar para sempre e sempre e sempre e sempre, eu estava tão feliz que nao me importava se nunca mais voltasse para casa.

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